Foto: Reprodução/The College of Cardinals Report
Na véspera do início do conclave que definirá o sucessor do papa Francisco, os cardeais eleitores receberam um relatório detalhado que perfila cerca de 40 possíveis candidatos ao papado — com viés visivelmente alinhado aos valores conservadores da Igreja Católica.
O material, chamado de Relatório do Colégio dos Cardeais, está disponível online e também foi distribuído em formato impresso aos participantes do conclave. O documento destaca posicionamentos dos cardeais em temas sensíveis como união entre pessoas do mesmo sexo, papel das mulheres na hierarquia e métodos contraceptivos — pontos frequentemente associados às reformas progressistas promovidas por Francisco.
Apesar do sigilo que envolve o processo do conclave, que se inicia nesta quarta-feira (7) na Capela Sistina, os cardeais têm permissão para portar documentos escritos. Essa brecha está sendo usada por grupos que tentam influenciar discretamente a escolha do novo líder da Igreja.
A elaboração do relatório foi conduzida pelos jornalistas católicos Edward Pentin (Reino Unido) e Diane Montagna (EUA), ambos conhecidos por colaborarem com veículos tradicionalistas. A entrega impressa do material aos cardeais foi vista em reuniões prévias ao conclave.
Produzido em parceria com instituições conservadoras como a Sophia Institute Press, editora responsável por títulos contrários às reformas de Francisco, o relatório foi criticado por especialistas por sua parcialidade. Entre os exemplos está a maneira distinta com que descreve os cardeais: Mario Grech, alinhado ao atual pontificado, é considerado “polêmico”, enquanto Raymond Burke, crítico ferrenho de Francisco, é elogiado.
Especialistas em direito canônico alertam que tais tentativas de interferência ferem regras estabelecidas pelo papa João Paulo II, que proíbem qualquer influência externa no processo eleitoral papal, sob pena de excomunhão.
Além do relatório, outras formas de pressão têm surgido: redes sociais inundadas por desinformação, campanhas de grupos conservadores bem financiados e até montagens com inteligência artificial envolvendo cardeais e personalidades políticas.
Apesar das tentativas de influência, muitos cardeais se mantêm cautelosos. O arcebispo aposentado de Bombaim, Oswald Gracias, afirmou ter recebido o livro, mas preferiu não se aprofundar na leitura, destacando a necessidade de cuidado com informações distorcidas.
O conclave de 2025, que reúne representantes de 71 países — muitos nomeados pelo próprio Francisco —, promete ser um dos mais complexos e disputados dos últimos tempos.